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Eduardo Henrique Girão

by admin on julho 6th, 2011

POÇO DE SABEDORIA

Em página antológica de uma das edições do “Informativo OS GIRÕES”, o escritor e jornalista Blanchard Girão” faz uma síntese da vida e da personalidade desse ilustre parente:

“Desde cedo me acostumei a ter na figura do Dr. Eduardo Girão o paradigma do homem plenamente virtuoso. Um simples olhar para o casarão respeitável da Praça da Lagoinha, onde viveu sua longa existência, me provocava uma profunda convicção do respeito, embutido neste conceito infantil um vasto punhado de qualidades integrantes da personalidade do meu ilustre parente.

Essa imagem surgida na infância cristalizou-se em mim com o passar dos anos e um melhor conhecimento do caráter e da grandeza de Eduardo Girão como homem e como intelectual.

Eduardo Girão, hoje nome de bela Avenida da Capital cearense, foi sem favor nenhum, um espírito de escol, não somente capaz de enaltecer a família a que pertencia, mas como a toda a espécie humana. Era um sábio, por certo, porém antes disso era um simples, despojado de vaidades; superior pela cultura, no entanto, nivelado aos mais humildes. Professor emérito, mestre consagrado do Direito, gozava entre os alunos da tradicional Faculdade de Direito do Ceará de arraigada amizade, uma quase íntima identificação de camaradagem, sem prejuízo do absoluto acatamento e reverência à sua condição de mestre culto e bom.

Na advocacia, na política, nas letras, Eduardo Girão sobressaiu-se sempre com brilhantismo. Mas havia nele, mais que o brilho, a marca da sensatez, o toque sereno do equilibrado, a essência absoluta da sabedoria. A ele costumavam recorrer quantos se achavam em dificuldades; era na sua imensa capacidade de vasculhar as emoções humanas, que se abeberavam aqueles que se deixavam envolver nos emaranhados das relações existenciais.

Girão, na juventude, recebeu de Farias Brito, além da orientação para o exercício da advocacia, no qual buscaria a sua manutenção pessoal, a base filosófica que o capacitou a analisar o homem diante da realidade do mundo, suas contradições, seus interesses, suas desigualdades e seu destino final. Foi na genialidade de Farias Brito que Eduardo Girão aprimorou as inatas propriedades de caráter, avultando dentre elas, sem dúvida alguma, a força do seu pensamento, tal como no seu insigne mestre.

Saindo da escola filosófica de Farias Brito, Girão agregou-se a outro nome invulgar pelo talento, marcado, todavia, pela extrema emotividade de suas posições: – o jornalista João Brígido, panfletário de língua solta, de pena sem freios, famoso pela ironia e pela mordacidade. Personalidade, pelo visto, rigorosamente oposta à de Girão, o que não impediu uma sólida e constante amizade entre ambos por toda a vida.

Casa-se com Dona Maria de Jesus Rocha Girão, em 1902, e recebe inclusive a ajuda financeira de João Brígido, no valor de 200 mil réis, para as despesas preliminares, conforme ressalta Raimundo Girão, um dos mais profundos conhecedores da vida, da pessoa e da obra do tio eminente.

Celebrizando-se pelo equilíbrio, pela honestidade e pela competência, o rábula que se tornou advogado formado pela Faculdade do Recife em 1912, firma-se naqueles primórdios do século como um dos profissionais de maior e mais selecionada clientela nas lides forenses do Estado.

Para os padrões da época Girão fez-se rico profissionalmente, valendo destacar um episódio que lhe deu ainda mais nomeada como advogado e proporcionou-lhe uma elevada renda de honorários. Desse episódio já me referi certa feita num escrito para um livro de Clodomir Teófilo Girão sobre o professor Eduardo Girão”.

Foi na revolução rabelista, em 1912, quando o povaréu ateou fogo a numerosas propriedades da família Accioly. Havia um ódio incontrolável que chegava ao ponto de ameaçar de morte o advogado que aceitasse a defesa da oligarquia destronada. Procurado pelos Accioly, Girão, com aquela prudência emblemática, aconselhou-os a esperar. “Passem-me a procuração e aguardem. Estes que ora lhes atiram pedras e tocam fogo aos seus bens, em pouco estarão saudosos de vocês e querendo derrubar os novos senhores do Poder!”. Tudo se passou conforme previra Girão. Quando a euforia dos rabelistas se transformou em decepção, o astuto advogado entrou com uma ação indenizatória contra o Estado em favor dos Accioly. E venceu de maneira esmagadora. Era a sua consagração profissional. E mais do que isso: era a projeção de seu nome como uma das mais lúcidas inteligências e maior força de moderação no trato das situações delicadas. Dentro desse enfoque, chegaria Eduardo Girão ao Governo do Estado, na crise da revolução de 30. Foram buscá-lo para, mais uma vez, devolver a harmonia e o bom senso em meio à onda de emoções desenfreadas.

Diante da beligerância daqueles dias revolucionários, recomendaram-lhe a escolha de um Chefe de Polícia (Secretário de Segurança) de indiscutível valentia, homem para enfrentar a luta na base do bacamarte. Para surpresa de todos, o Governador Girão nomeou o advogado Estevão Mosca, padrão de comedimento e paz, manso como poucos e que, em razão disso, aquietou os espíritos conturbados pelas paixões políticas.

São apenas alguns traços rápidos da personalidade desse meu parente ilustre, autêntico poço de sabedoria, que já é nome de avenida importante, mas que ainda está por merecer um estudo mais aprofundado de sua extraordinária personalidade”.

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