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Luís Carneiro de Sousa Girão (Sousa)

by admin on julho 6th, 2011

BONDADE PERSONIFICADA

Luís Carneiro de Sousa Girão, mas conhecido por Sousa Girão, nasceu em Morada Nova a 3 de julho de 1877. Era filho de Leandro Carneiro Girão (Lulu), sendo pelo lado materno bisneto do fundador da família Girão no Ceará, o brasiluso Antônio José Girão.

Aquele que chegou a ser respeitado pela sua sapiência jurídica, a ponto de Gomes de Matos, um dos maiores advogados da Terra alencarina, afirmar categoricamente: “MEU CÓDIGO É O SOUSA”. Perdeu o pai aos três anos de idade, casando, em primeiras núpcias, com a sua prima legítima Celina Cavalcanti, de cujo matrimônio nasceu, entre outros filhos, Raimundo girão, considerado não só o maior historiador do Ceará, como também um dos vinte maiores cearenses de todos os tempos.

Residindo, inicialmente, o casal Sousa-Celina no “Retiro Novo”, o Açude Novo, em Morada Nova, Sousa Girão, de pecuarista e criador, aliou-se ao seu tio Porfírio Girão no comércio e na política. Ora, Porfírio era um verdadeiro líder político e suas “altas virtudes de austeridade, honestidade e sua bondade pessoal”, logo fizeram de Sousa Girão um grande amigo e incondicional admirador de seu tio, a tal ponto de Sousa afirmar, alto e em bom tom: que “mulher da família Girão não pariria outro Porfírio”.

E o jovem Sousa, corajoso e ativo com seu tio na liderança local, tendo como parceiros de mesmas idéias Manuel de Castro Gomes de Andrade, Conrado Balbino da Silva Girão, José Ambrósio da Silva, Luís Eduardo girão e outros, pertenciam à facção dos maloqueiros, que fazia oposição política ao governo do poderoso oligarca Nogueira Acioli, cujos seguidores eram chamados de cafinfins.

“Em 11 de abril de 1904, quando em todo Estado se realizavam eleições para a sucessão daquele governante, verificou-se forte luta armada na sala das votações da vila, dela saindo morto o cangaceiro Manuel Bento, acintosamente para ali trazido a fim de atemorizar os eleitores da maloca, saindo alguns dos disputantes com ferimentos sérios; e por milagre escapando de um tiro o Sousa, um dos elementos mais frontais e ardorosos naquela conjuntura”.

E, para a tristeza daquele jovem, que dera exemplo de destemor e desprendimento, teve ele que deixar a sua querida Morada Nova, reiniciando sua vida no mundo da política só mais tarde em Fortaleza, com a vinda de Carneiro de Mendonça, para governar o nosso Estado, implantando a “Pátria Nova”, do qual Sousa foi colaborador.

Sem desfazer-se de seus interesses por sua terra natal, cuja política de oposição na realidade era um dos que decidiam e orientavam, Sousa Girão adquiriu um Sítio na Serra do Maranguape, no começo de 1905 e para lá se transferiu com mulher e filhos.

Flexionando os braços de gigantes, Sousa Girão logo refez o Sítio Guarani, situado no cimo da serra, à custa de muito esforço e, com os produtos dele mantinha a família.

Nomeado Escrivão do Crime, Júri e Execuções Criminais de Fortaleza, por título de 27 de outubro de 1913 e assinado pelo Presidente Coronel Dr. Marcos Franco Rabelo, Sousa Girão transferiu-se para esta Capital. Trazendo sua inerente disposição de ter os braços sempre em movimento e com o seu cérebro privilegiado, dentro de pouco tempo, Sousa recuperou o Cartório que encontrou “em estado de desalinho e com os serviços todos em atraso”. Além de se tornar um oficial plenamente capaz, consultado que era, inclusive por advogados, sobre problemas concernentes à processualística criminal, Sousa amava o debate das questões ocorrentes no Cartório com Juízes e Promotores. Tinha o prazer da consulta das velhas leis estaduais e dos livros esgotados de doutrina, numa época em que cada Estado tinha suas próprias leis processuais (o Código respectivo ainda não era sistematizado). Gostava de esclarecer, como frisou Albano Amora, aos novéis bacharéis, sem malícia e com um jeito antes de diplomata do que de mestre-escola, e, às vezes, ensaiava longos artigos sobre a praxe forense. Advogado provisionado que era pelo Tribunal de Justiça, sempre que podia rabulava também.

“Meu código é o Sousa”, dizia Gomes de Matos, um dos grandes advogados que militavam no Fórum de Fortaleza.

Quando de aposição do retrato de Sousa Girão numa das salas do Fórum, Albano Amora, em frases lapidares, descreveu o escrivão homenageado como homem sumamente extraordinário, inteligente, de notável saber jurídico, hábil, trabalhador simples, amável e incapaz de trair a dignidade humana por amor ao dinheiro. De fato, Sousa Girão convivia com os humildes sem ser para com eles insolente; podia estar perfeitamente no meio dos ricos e poderosos, sem a sujeição abjeta daqueles que sobem por favores e, acima de tudo exercia as suas relevantes atividades sem nunca lamear a sua consciência ou sujar as suas mãos.

Sousa não se limitava a mandar, ia fazer. A sua residência parecia um consulad9o de aflitos e asilo de doentes, vindo de Morada Noa, sua terra natal, pela qual se desdobrava, Maranguape e de muitas partes. Era hábito seu curar feridas de enfermos, parentes e pessoas estranhas. “Anonimamente praticava a verdadeira caridade, numa missão celestial de fazer e dar sem intenção de recompensa, nem de agradecimento, numa suprema expressão de Amai-vos uns aos outros. É São Francisco de Assis, é São Vicente de Paula, é Santo Agostinho… Nunca negou”.

E, assim, foi Sousa Girão que, sem jamais ter freqüentado uma escola de Direito, chegou a ser respeitado pela sua sapiência jurídica. Segundo o jornalista Blanchard Girão, Sousa, como seu filho Raimundo Girão, era uma estrutura de dignidade e inteligência gigantesca. Merecidamente, atingiu este protótipo da família fundada por Antônio José Girão, no campo do saber jurídico e no reino da bondade, as culminâncias próprias das águias, sem nunca renunciar a simplicidade dos vales da vida sertaneja, cujas origens nunca se afastou.

E Sousa Girão fechou os olhos para sempre, mas, antes de soltar o seu último suspiro, Sousa, segurando as mãos de sua segunda esposa – Mariinha, e sob o olhar angustiado dos seus filhos, pediu: “Enterro mais simples do mundo, muita união”. Transcorria aquele triste 15 de julho de 1945.

Pelo que se sabe, através de Raimundo Girão, os filhos, cumprindo-lhe a determinação derradeira, são realmente uma irmandade integralmente unida com a solda do seu exemplo e da sua saudade”.

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