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Raimunda Carneiro Girão (Dona Moça)

by admin on julho 6th, 2011

Mãe Coragem

Raimunda Carneiro Girão, chamada desde criança, Dona Moça, segunda filha de treze rebentos de Antônio Eduardo Girão, com Felícia Amélia Carneiro, nasceu a 16 de março de 1903, em Morada Nova.

Moça bonita, inteligente e afeita às prendas domésticas, destacava-se pela personalidade marcante.

Com um pouco mais de dezoito anos perdeu sua genitora, quando assumiu a responsabilidade de mãe dos irmãos menores.

O acontecimento não a impediu, no entanto, de dois anos depois, realizar seu sonho maior – casar-se com o primo Benigno Carneiro de Sousa, seu primeiro e único amor.

Apesar de primo e rapaz correto, o namoro não era visto com simpatia pelo patriarca Tonho Major que fez cerrada oposição ao romance. Acreditamos que a justificativa estivesse na precária situação financeira do pretendente, ocupado nas lidas pastorais e na agricultura, além do mais, arrimo de família.

Antônio Eduardo Girão, apesar de não ser rico, era proprietário da Fazenda Floresta e gozava de projeção social e política: por duas vezes, foi solicitado a dirigir como prefeito, os negócios político-administrativos do seu município já o tendo feito antes, como membro da Câmara de Vereadores.

Bem próximo à Floresta, ficava a fazenda Bom-Destino, propriedade da família Benigno.

Ambas as terras pertenceram à sesmaria de Antônio José Girão, o português que fundou no Ceará a Família Girão.

Os laços de parentesco e a convivência consolidaram cada vez mais o romance.

O casamento realizou-se por procuração, em Fortaleza, com José Eduardo Girão, seu irmão, àquela época acadêmico de Direito.

Todos esses fatos e muitos outros são lembrados por Dona Moça com uma lucidez impressionante, apesar dos seus 93 anos. Relata inclusive a viagem de trem via Quixadá, já que aquele tempo não existia transporte direto de Morada Nova para Fortaleza.

O percurso era feito a cavalo até Quixadá, onde se tomava o trem para a capital. Ela também não esquece de narrar o encontro com o amado.

Amado sim, pois 61 anos que passaram juntos, foram partilhados de muita compreensão e respeito. O amor pelo “Velhote”, como o chamava, nunca arrefeceu.

Construir um lar e criar oito filhos, não foi tarefa fácil para aquele casal, que tinha como atividade um pequeno criatório em terreno árido para mantê-los. As secas, o terror maior do pastoreio, aconteciam com freqüência na década de 30, forçando retiradas de rebanhos para alguns lugares distantes.

Dona Moça enfrentou todas as etapas de sua vida, mas a empreitada maior foi aquela referente à educação dos filhos. Em Morada Nova não era possível, pela carência de escolas. Comprou então um pequeno sítio em Pacajus, acreditando que, sendo próximo à capital tornar-se-ia mais fácil a instrução da prole. No entanto, vieram outras dificuldades, que forçaram sua mudança para Fortaleza, cidade onde a maioria dos filhos já se encontrava em casa de parentes.

Foram difíceis os primeiros tempos. Nenhum filho tinha trabalho remunerado, precisando assim, estudar em colégio público (Escola Normal ou Liceu). Para conseguir vagas nestas escolas, enfrentou secretários de Educação e diretores de colégios.

Deus abençoou essa sertaneja forte e destemida. Formou quase todos os filhos. Atualmente, não obstante a idade avançada continua com a mesma franqueza que lhe é peculiar. Esquece a modéstia e fala de seus sucessos que ainda são muitos.

Dona Moça se sente feliz e agradecida a Deus pelo caminho dos filhos, netos e bisnetos, todos despontando para uma vida plena de realizações pessoais e profissionais. Para completar as alegrias de sua vida, experimentou a realização de um sonho: o nascimento do primeiro tetraneto. Não foi em vão que seus olhos brilharam de felicidade quando a chamavam de Mãe Coragem.

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