PANORAMA HISTÓRICO
I. Panorama Histórico
“A tradição nos faz sentir o quanto estamos unidos aos que nos precederam, o quanto eles continuam atuantes no íntimo de nosso ser”. Arcângelo Buzzi.
I. 1. Introdução
Nosso primeiro objetivo será, naturalmente, o de situar a origem da família Girão em sua perspectiva histórica, pois é muito importante saber onde e como tudo começou. De acordo com o mapa da Europa, a península Ibérica, onde se situam a Espanha e Portugal, encontra-se noextremo sudoeste do continente europeu. Embora dividida entre os territórios soberano da Espanha, com 85% e de Portugal, com 15%, também fazem parte da península, o vale pirenaico que forma o pequeno país de Andorra, e os seis quilômetros quadrados de rocha do extremo de sua costa sul, que é o Gibraltar, uma possessão britânica, desde o ano de 1713. Mas nem sempre foi assim. Antes, porém, de se consolidar como Estado, a Espanha, por exemplo, enfrentou sérias dificuldades. Todos os seus territórios, com exceção dos pequenos reinos situados no extremo norte, foram controlados pelos muçulmanos, nos séculos VIII e IX. Em 1056, Fernando I, “O Magno” , era rei de Castela e Leão e, nesta condição, assumiu o título de rei da Espanha. Ao conquistar territórios sob o controle dos mulçumanos (mouros na linguagem do povo), deu início ao período da restauração do domínio espanhol na península Ibérica. Antes, porém, de morrer, Fernando dividiu o império entre os seus filhos, que, depois de violentos combates, entre si, um deles, Afonso VI, “O Grande”, apoderou-se de toda a herança paterna, ao mesmo tempo em que o reconstruía em sua integridade. Foi no reinado de Afonso VI, um dos 11 reis de Leão e Castela, que ocorreu , em 1085, a conquista do reino muçulmano de Toledo datando daí o verdadeiro início da Reconquista (guerra contra os árabes), cuja duração levou cerca de 500 anos, só completada com a derrota dos mouros, em 1493 – ano da viagem de Cristóvão Colombo à América, realizada em plena euforia da vitória (C.c. “Rumos da História, de Antonio Paulo Rezende e Maria Thereza Didier). Em Portugal, também, o processo de centralização esteve ligado à Reconquista, embora a aliança com os mercadores tenha sido o fator mais importante pra o fortalecimento da monarquia portuguesa.
I. 2. A origem da família Girão na Espanha
A origem da família Girão na Espanha está diretamente vinculada ao rei Afonso VI, pois foi durante a batalha para a tomada da estratégica cidade de Toledo, que el-rei, encontrando-se a pé, na iminência de se fazer prisioneiro dos mouros, D. Rodrigo Gonçalves de Cisneiros, que com ele se encontrava, cedeu-lhe o próprio cavalo, num gesto de lealdade. Antes de retirar-se são e salvo, o soberano cortou um girão (pedaço de pano de sua indumentária), a fim de que, futuramente, pudesse identificar o autor da façanha. Libertado, D. Rodrigo provou, com o girão que lhe havia sido entregue, ser ele o verdadeiro autor daquele nobre ato. Posteriormente o irrequieto D. Gonçalo ainda serviu ao rei D. Afonso VII. Casou-se com D. Inês, ou Estefânia de Armengol e seu filho, D. Gonçalo Rodrigues Girão de Cisneiros, sucessor da Casa Paterna, que vivia no ano de 1158, foi o primeiro a usar o apelido Girão, passando aos seus descendentes (C/c. “Armorial Lusitano” – Editora Enciclopédia Ltda).
I. 3. Os Girões em Portugal
Da Espanha, “onde a família Girão é uma das mais importantes”, os descendentes passaram para Portugal e, dentre eles, podem ser citados: D. Pedro Girão, filho de D. João Afonso Girão, rico-homem de Castela, casado com Dona Urraca Galina; seu irmão mais velho, D. Afonso Teles Girão, também rico-homem de Castela, com os seus dois filhos – Pedro Afonso Girão e D. Maria Teles Girão, ou apenas Maria Girão. Deste último proveio larga descendência com este apelido, em terras lusitanas ( op. Cit.). A grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (vol. XII) dá notícia de vários girões notáveis, dentre os quais podem e devem ser citados: a) Antonio Luis Ferreira Carneiro de Vasconcelos Teixeira Girão, professor e bacharel pela Universidade de Coimbr;, nasceu no Porto, em 13-VI-1823 e faleceu em Vila-Nova-de-Famalição a 02-VIII-1876. Era filho de Antonio Ferreira Carneiro de Vasconcelos, senhor de honra do Paço de Avioso, dos Morgados do Carregal e das Taipas. Formado em Filosofia e bacharelado em Matemática, era também considerado, tanto em Portugal como no estrangeiro, renomada autoridade em Química, Mineralogia e Metalurgia. Além disso, foi também poeta e escreveu grande número de folhetins cheios de espírito e vivacidade; b) João Lopes de Sequeira Girão era capitão, construtor e proprietário do castelo de Santa Cruz de Guer; c)Padre João Rodrigues Girão, nascido em Alcochete, faleceu em 1633. Em data de 16-XII-1576, entrou para o noviciato da Companhia de Jesus no Colégio de Coimbra e, em 1583, partiu para a Índia, de onde seguiu para o Japão, de cuja língua era profundo conhecedor; d) Júlio Vitor Ferreira Carneiro de Vasconcelos Teixeira Girão, nasceu em 1854. Era filho do 2º Visconde de Vilarinho de S. Romão e de D. Júlia de Glamouse Browne, e sobrinho do Dr. Antonio Luis Ferreira Girão, professor da Academia Politécnica do Porto, mencionado no item “a”. Júlio Vitor era, segundo a mesma Enciclopédia, homem muito culto, devotado à historiografia e as suas obras merecem muito as atenções dos eruditos.
I. 4. Os Girões no Brasil
No Brasil, segundo o historiador Raimundo Girão, em seu livro “Montes, Machado e Girões”, fls. 73, estiveram, à época colonial, alguns Girões, dentre os quais: Francisco Lopes Girão, radicado na Bahia e falecido a 1652; Cristóvão de Aguiar Girão, que fez parte, em 1638, da bandeira de Fernão Dias Pais e o jesuíta Manuel Girão, natural de Crexido, Bispado de Fiseu, em Portugal, o qual nasceu em 1718. Ainda de acordo com esse renomado historiador cearense (op. cit), no começo do século XIX, vieram, para Pernambuco, três rapazes Girão: José de Matos Girão, que ficou na capital pernambucana; Henrique Pope Girão, patriarca dos Girões Popes e Antonio José Girão, o fundador da família Girão no Estado do Ceará.
II. A saga dos Girões no estado do Ceará
A Fazenda S. José, no então termo e vila de Quixeramobim, no Estado do Ceará, foi o local, inicialmente, escolhido pelo jovem lusitano Antonio José Girão, para viver. Ali, casou-se, em 1810, com a cearense D. Maria José de Jesus. Posteriormente, o casal transferiu-se para a então Vila do Espírito Santo, atualmente Cidade de Morada Nova. Em suas origens, o Município de Morada Nova, Estado do Ceará, estava constituído de fazendas isoladas,desdobradas dos grandes latifúndios resultantes das sesmarias do rio Banabuiú. A sede municipal, que mais tarde se denominaria a Cidade de Morada Nova, teve origem, segundo o historiador Raimundo Girão, “num núcleo de casinhas existentes no sítio Bento Pereira, localizado às margens do maior afluente do rio Jaguaribe, denominado Banabuiú ou, “Rinaré”, pelos Índios jenipapos e canindés, que lá habitavam, inicialmente. Procedente do então Termo e Vila de Quixeramobim, o lisboeta ANTONIO JOSÉ GIRÃO, filho de Manuel Rodrigues e de Mariana da Silva, casado a 10 de outubro de 1810, com Maria José de Jesus, filha do capitão-mor Manuel Antonio Rodrigues Machado e de Luzia Maria Pessoa, veio para Morada Nova,onde adquiriu, por compra ao senador Afonso José Albuquerque Maranhão, em 1836, o sítio Patos, cujas terras se estendiam de um e outro lado do rio Banabuiú. Ali, viveu o lusitano Girão como próspero pecuarista e topógrafo, funcionando, nesta condição, em muitos processos de demarcação e divisão de terras, no interior da então Província cearense (Raimundo Girão, op. cit.). É da geração do português Antonio José, intensamente entrelaçada com as dos lusitanos Joaquim José Carneiro Monteiro e Luiz José da Cunha Correia, casados com outras filhas do capitão-mor Manuel Antônio, que se originou a FAMÍLIA GIRÃO no Ceará. Lamentavelmente, a casa em que o fundador do clã dos Girões viveu, até falecer, já viúvo, em 6 de abril de 1868, criando antes os seus doze filhos já não existe mais, a não ser alguns tijolos amontoados no local de sua antiga construção.
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