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Diálogo com meus netos

by admin on julho 7th, 2011

Guilherme 15 anos

Querido neto Guilherme

Hoje – dia 5 de dezembro de 2009 – você completa 15 anos de idade. Como o tempo passa depressa!  Foi um ontem que o vi nascer… o muito esperado segundo neto. Lembro-me quando você, ainda no berçário, ao abrir os olhos pela primeira vez, fixou um olhar demorado para mim e logo percebi: este me vai dar muitas alegrias e orgulho. Sinto-o no amanhecer da vida. Ainda não é dia pleno para você. Há um longo caminho a percorrer, em um misto de sonhos, planos, esperanças e realidade.

A primeira palavra que me vem é de agradecimento a Deus por termos, juntos, chegado até aqui. Você deixa a infância e dela talvez, no futuro, irá até sentir saudades. Certamente teme o futuro. Mas sabe quanto é compensador ter em quem se apoiar. Nunca o apoio de facilidades, mas, sobretudo, do estímulo e do exemplo, que são os mais significativos para a sua formação; com sua vida e sua conduta, você prega um melhor sermão do que com suas palavras.

Todo avô é “coruja”. Não sou exceção. Dizem que “o avô é o cavalo bravo que o filho amansa para o neto montar”. Porém, por justiça, o orgulho que você me dá, não apenas por ser cumpridor dos deveres juvenis, mas pelo espírito profundamente humano e cristão – traço marcante de sua personalidade. Certamente por índole, você preferiria não ter grande festa no seu aniversário ou fazer uma viagem ao exterior.  Vê muitos jovens com dificuldades e gastar com festa ou viajar não lhe daria satisfação interior. Você desejou, sem dúvidas, ser solidário com eles.

Neste mundo tão competitivo, é bom vê-lo com as sementes da solidariedade nas mãos, lançando-as no solo fértil do futuro. Nunca deixe de agir assim, mesmo diante das naturais decepções que poderão surgir.

Pelo que eu sei, percebo que você me considera um bom avô, às vezes austero, mas com manias engraçadas, e me acha, mesmo assim, seu melhor companheiro. Pena que tenhamos tão pouco tempo para brincar, se divertir. Tão pouco, porque só sei brincar de passado, e você só sabe brincar de futuro. E ainda estarei brincando de recordação quando você começar a brincar de esperança. Mas, antes que termine o nosso recreio juntos, antes que eu me torne apenas um retrato na parede, uma referência da família, ou quem sabe até uma lágrima de sua mãe, quero lhe dizer meu neto, que vale a pena. Vale a pena crescer e estudar. Vale a pena conhecer pessoas, ter namoradas, sofrer ingratidões, chorar algumas decepções. E, a despeito de tudo isso, ir renovando todos os dias a sua fé e a bondade essencial da criatura humana, e o seu deslumbramento diante da vida. Vale a pena verificar que não há trabalho que não traga sua recompensa; que não há livro que não traga ensinamentos; que os amigos têm mais para dar que os inimigos para tirar; que se formos bons observadores, aprenderemos tanto com a obra do sábio quanto com a vida do ignorante. Vale a pena casar e ter filhos. Filhos, que nos escravizaram com o seu amor. Vale a pena viver nesses difíceis tempos modernos, em que milagres acontecem ao piscar de olhos; em que se pode telefonar da Terra para a Lua; lançar sondas espaciais, máquinas pensantes à fronteira de outros mundos, e descobrir na humildade  que toda essa maravilha tecnológica não consegue, entretanto, atrasar ou adiantar um segundo sequer a chegada da primavera. Vale a pena meu neto, mesmo quando você descobrir que tudo isso que estou tentando ensinar é de pouca valia, porque a teoria não substitui a prática, e cada um tem que aprender por si mesmo que o fogo queima, que o vinagre amarga, que o espinho fere, e que o pessimismo não resolve absolutamente nada. Vale a pena, até mesmo envelhecer como eu e ter um neto como você, que me faz recordar a infância. Vale a pena, ainda que eu parta cedo e a sua lembrança de mim se torne vaga. Mas, quando os outros disserem coisas boas de seus avós, quero que você diga de mim simplesmente isso: “Meu avô foi aquele que me disse que valia a pena. E não é que ele tinha razão!” – Parabéns, querido neto,  pelo seus doces 15 anos. Com afetuoso abraço e o beijo carinhoso do Vô que muito te ama.

Guilherme Girão

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